domingo, 2 de dezembro de 2018

Um texto do Comandante António Valente, Comandante de Linha Aérea e Licenciado em História


O Cavalo visto por um leigo na matéria

Quando Deus criou o cavalo foi pródigo na beleza e elegância que dispensou a este nosso companheiro na passagem pela vida terrena.

Estatura bem proporcionada, patas e pescoço compridos, arqueado, pelagem macia e de cores brilhantes e muito agradáveis à vista, um adorno de crinas e outro na cauda que o tornam um modelo atrativo a qualquer mestre da pintura. Possuidor de um olhar vivo de reprovação quando algo não lhe agrada, mas de uma comovente doçura quando reconhece no seu dono alguém que o trata com os cuidados que merece. Sem dúvida um dos seres mais belos do mundo, tem sido o nosso companheiro e parceiro de trabalho desde há milhares de anos. Veloz quanto o vento, muito resistente, no seu estado selvagem não é um caçador, é antes uma presa que prefere fugir quando é atacado mas, quando vê que não consegue escapar, sabe enfrentar o perigo e defender-se com valentia. Muito sociável, estabelece facilmente vínculos de união com o homem e com os outros animais.




Neste breve trabalho, a qualquer erudito em hipologia não escaparia a oportunidade de lembrar que, segundo os estudos biológicos, o cavalo está neste mundo desde há cerca de 55 milhões de anos, sendo que o Eohippus é identificado como um dos seus mais antigos ancestrais. Certamente acrescentaria que, por volta de há três milhões de anos, a espécie Equus apresentava já os cascos semelhantes aos atuais e teve a força e a capacidade de se espalhar pelos quatro cantos do mundo. E foi assim que alguns milhares de anos mais tarde, homem e cavalo se encontrariam para a realização em comum de várias tarefas que envolveriam a guerra, a agricultura, o transporte e o desporto. 

Segundo consegui apurar, no período medieval, os “hunos”, uma comunidade guerreira e nómada, passava grande parte do seu tempo montada no lombo deste animal. Parece que as tribos que compunham a comunidades eram excelentes criadores de cavalos e adeptos de combates a cavalo esgrimindo com destreza a espada, as lanças e os arcos. Alguns relatos dão-nos a conhecer que os “hunos”, além de guerrear, em alguns casos também dormiam no dorso do próprio animal.

Mas, como não sou um conhecedor profundo nem um estudioso desta matéria, limito-me a fazer umas breves reflexões sobre o assunto. Logo no início do texto teci um breve comentário sobre a beleza e elegância naturais do cavalo, agora, a finalizar, outra breve reflexão. Assim:
- Quando estudamos o processo de dominação da natureza pelo Homem, limitamo-nos a explorar eventos muito marcantes e pontuais, como por exemplo o uso do fogo, a descoberta da agricultura ou a invenção da roda. Em todos esses casos observamos que o homem é colocado no fulcro de todos estes avanços culturais. O Homem é visto como o autor individual que, por meio do uso de suas faculdades mentais, estabeleceu ao longo dos milénios conquista atrás de conquista na luta pela sobrevivência. Porém, não é habitual falar-se sobre os ganhos da humanidade logo que se começou a fazer uso do cavalo. Creio que daria uma excelente tese de doutoramento.




Finalmente, recordar a lenda grega do Centauro, quando no Universo os homens e os cavalos se 
fundiam num só. Quando na Antiguidade Clássica se acreditava que as éguas prenhes só do vento pariam os mais velozes e mais belos cavalos do mundo - os “Filhos do Vento”.

António Valente*

Não se aproxime de uma cabra pela frente, de um cavalo por trás ou de um idiota por qualquer dos lados. Provérbio Judeu

*Comandante de Linha Aérea e Licenciado em História